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22/09/2016

Uma viagem ao Cérebro Humano: Drogas

A cocaína é uma substância natural, extraída das folhas de uma planta que ocorre exclusivamente na América do Sul: a Erythroxylon coca, conhecida como coca ou epadú, este último nome dado pelos índios brasileiros. A cocaína pode chegar até o consumidor sob a forma de um sal, o cloridrato de cocaína, o “pó”, “farinha”, que é solúvel em água e, portanto, serve para ser aspirado ou dissolvido em água para uso endovenoso ; ou sob a forma de uma base, o crack que é pouco solúvel em água mas que se volatiliza quando aquecida e, portanto, é fumada em “cachimbos”.Também sob a forma base, a merla (mela, mel ou melado) preparada de forma diferente do crack, também é fumada.




CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES BIOQUÍMICAS
Por apresentar um aspecto de “pedra” no caso do crack e “pasta” no caso da merla, não podendo ser transformado num pó fino, tanto o crack como a merla não podem ser aspirados como é o caso da cocaína pó (“farinha”), e por não serem solúveis em água também não podem ser injetados. Por outro lado, para passar do estado sólido ao de vapor quando aquecido, o crack necessita de uma temperatura relativamente baixa (95° C) o mesmo ocorrendo com a merla, ao passo que o “pó” necessita de 195° C, por esse motivo que o crack e a merla podem ser fumados e o “pó” não.Há ainda a pasta de coca que é um produto grosseiro, obtido das primeiras fases de separação de cocaína das folhas da planta quando estas são tratadas com álcali, solvente orgânico como querosene ou gasolina e ácido sulfúrico. Esta pasta contém muitas impurezas tóxicas e é fumada em cigarros chamados “basukos”.Antes de se conhecer e de se isolar cocaína da planta, esta era muito usada sob forma de chá. Ainda hoje este chá é bastante comum em certos países como Peru e Bolívia, sendo que neste primeiro é permitido por lei, havendo até um órgão do Governo o “Instituto Peruano da Coca” que controla a qualidade das folhas vendidas no comércio. Este chá é até servido aos hóspedes nos hotéis. Acontece que sob a forma de chá, pouca cocaína é extraída das folhas; além do mais, ingere-se (toma-se pela boca) o tal chá, e pouca cocaína é absorvida pelos intestinos e ainda mais ela já começa a ser metabolizada pelo sangue e indo ao fígado é em boa medida destruída antes de chegar ao cérebro. Em outras palavras quando a planta é ingerida sob a forma de chá, muito pouca cocaína chega ao cérebro.Normalmente ela é misturada com substâncias tais como o amido de milho, pó de talco e/ou açúcar ou outras drogas como a procaína (um anestésico local) ou anfetaminas.Extraída das folhas de coca, a cocaína foi originalmente desenvolvida como um analgésico. É mais comummente inalada pelo nariz, sendo o pó absorvido pela circulação sanguínea através do tecido nasal. Pode também ser ingerida ou friccionada nas gengivas.Para a droga ser absorvida mais rápidamente pelo corpo, os toxicodependentes injectam–na, mas isto aumenta substancialmente o risco de overdose. A cocaína é uma das drogas mais perigosas conhecidas pelo homem. Uma vez que uma pessoa comece a consumir a droga, é quase impossível física e mentalmente livrar–se das suas garras. Físicamente ela estimula os receptores chave do cérebro (terminações nervosas que alteram os sentidos no corpo) que, por sua vez, cria uma euforia à qual os consumidores desenvolvem uma tolerância rápidamente. Apenas o uso de doses mais elevadas e mais frequentes podem causar um efeito semelhante.
PORQUE É QUE A COCAÍNA É TÃO VICIANTE E COMO ELA AFETA  CÉREBRO
A cocaína cria a maior dependência psicológica de todas as drogas. Estimula centros–chave de prazer dentro do cérebro e causa uma euforia extremamente elevada.Depressa se desenvolve uma tolerância à cocaína – o dependente rapidamente deixa de conseguir o mesmo prazer sentido antes com a mesma quantidade de cocaína.Tanto o crack como a merla também são cocaína, portanto todos os efeitos provocados pela cocaína também ocorrem com o crack e a merla. Porém, a via de uso dessas duas formas (via pulmonar, já que ambos são fumados) faz toda a diferença do crack e da merla com o “pó”.Assim que o crack e a merla são fumados alcançam o pulmão, que é um órgão intensivamente vascularizado e com grande superfície, levando a uma absorção instantânea. Através do pulmão, cai quase imediatamente na circulação cerebral chegando rapidamente ao cérebro. Com isto, pela via pulmonar o crack e a merla “encurtam” o caminho para chegar no cérebro, aparecendo os efeitos da cocaína muito mais rápido do que outras vias. Em 10 a 15 segundos os primeiros efeitos já ocorrem, enquanto que os efeitos após cheirar o “pó” acontecem após 10 a 15 minutos e após a injeção, em 3 a 5 minutos. Essa característica faz do crack uma droga “poderosa” do ponto de vista do usuário, já que o prazer acontece quase que instantâneamente.Após ao uso intenso e repetitivo o usuário experimenta sensações muito desagradáveis como cansaço e intensa depressão.

Cocaína Envelhece o Cérebro Prematuramente

Uso crônico da droga acelera perda de massa cinzenta-

Apesar de a cocaína fazer com que os usuários se sintam mais alertas e dispostos por instantes, a longo prazo ela pode deixar o cérebro das pessoas muito mais lento. Um novo estudo mostra que o uso crônico da droga envelhece regiões-chave do cérebro mais rapidamente. As descobertas foram publicadas on-line pela Molecular Psychiatry.Usuários regulares de cocaína geralmente experimentam declínio cognitivo prematuro e atrofia cerebral. Agora, a nova pesquisa mostra como eles estão, de fato, perdendo massa cinzenta cerebral de forma acelerada.“Conforme envelhecemos, naturalmente perdemos massa cinzenta”, reforça Karen Ersche, do Instituto de Neurociência Clínica e Comportamental da University of Cambridge e co-autora do trabalho. “Já usuários crônicos de cocaína perdem massa cinzenta a uma taxa significativamente maior, o que pode ser um sinal de envelhecimento precoce”, alerta.Karen e seus colegas usaram imagens de ressonância magnética para estudar o cérebro de 60 pessoas entre 18 e 50 anos que declararam usar cocaína, comparando com imagens cerebrais de 60 voluntários saudáveis, com idade e QI semelhantes, que não usavam a droga. Eles descobriram que em geral os participantes saudáveis perdiam aproximadamente 1,7 mm de massa cinzenta por ano, enquanto usuários de cocaína perdiam cerca de 3,1 mm.Esse último grupo perdeu muito mais massa cinzenta nas regiões pré-frontal e temporal, áreas responsáveis pelo controle da memória, pela tomada de decisões e pela atenção, do que os outros voluntários.A descoberta traz uma nova interpretação sobre “a razão de o déficit cognitivo típico da terceira idade ter sido observado frequentemente em usuários crônicos de meia idade”, observa Karen. Mesmo após os pesquisadores excluírem 16 pessoas  que, além do uso de cocaína ingeriam álcool com frequência, a tendência à perda acelerada permaneceu. Dos aproximadamente 21 milhões de usuários de cocaína registrados no mundo, cerca de 1,9 milhão vivia nos Estados Unidos em 2008. E o maior grupo, segundo o National Institutes of Health, era composto por pessoas de 18 a 25 anos. “Os jovens usuários precisam ser alertados também sobre o risco de envelhecimento precoce”, alerta Karen.

Estudo mostra que cocaína muda estrutura do cérebro em duas horas

Os estudiosos da Universidade da Califórnia fizeram experimentos com camundongos, que receberam injeções com cocaína.Eles constataram que, apenas duas horas após receber a primeira dose, as cobaias já haviam desenvolvido no cérebro novas estruturas que são ligadas à memória, ao uso de drogas e a mudanças de comportamento.Os camundongos que tiveram as maiores alterações no cérebro revelaram ter uma dependência mais elevada de cocaína, mostrando que, segundo especialistas, o cérebro deles estava “aprendendo o vício”.A pesquisa foi divulgada na publicação científica Nature Neuroscience.

Caçador de cocaína

Os cientistas investigaram nas cobaias o surgimento de pequenas estruturas nas células do cérebro chamadas espinhas dendríticas, que têm relação profunda com a formação das memórias.Um microscópio a laser foi usado para olhar dentro do cérebro dos camundongos, ainda vivos, para procurar por espinhas dendríticas após eles receberem doses de cocaína. A mesma análise foi feita em camundongos que, em vez de injeções com cocaína, receberam injeções com água.O grupo que recebeu cocaína apresentou uma maior formação de espinhas dendríticas, o que indica que mais memórias, relacionadas ao uso da droga, foram formadas.A pesquisadora Linda Wilbrecht, professora assistente de psicologia e neurociência da Universidade da Califórnia na cidade de Berkeley, disse: “Nossas imagens fornecem sinais claros de que a cocaína induz ganhos rápidos de novas espinhas, e quanto mais espinhas os camundongos ganham, mais eles mostram que ‘aprenderam’ (o vício) sobre a droga”.Isso nos mostra um possível mecanismo ligando o consumo de drogas à busca por mais drogas.Essas mudanças provocadas pela droga no cérebro podem explicar como sinais relacionados à droga dominam o processo de tomada de decisões em um usuário humano.O pesquisador Gerome Breen, do Insituto de Psiquiatria do King’s College de Londres, ressaltou que o desenvolvimento da espinhas dendríticas é particularmente importante no aprendizado e na memória.“Este estudo nos dá um entendimento sólido de como o vício ocorre – ele mosta como a dependência é aprendida pelo cérebro.”
COCAÍNA E CRACK
Para entender o processo, vale lembrar que, no cérebro, há cem bilhões de neurônios, células características do sistema nervoso que possuem um corpo central e inúmeros prolongamentos ramificados, os dendritos. É através deles que o estímulo é conduzido de um para outro neurônio. Os dendritos não se ligam, porém, como os fios elétricos. Entre eles existe um pequeno espaço livre chamado sinapse (Imagem 2) onde várias substâncias químicas são liberadas e absorvidas. Uma das mais importantes é a dopamina.
Quando surge o estímulo que dá prazer, por exemplo, a dopamina cai no interior da sinapse e, como a chave que entra numa fechadura, penetra nos receptores do neurônio seguinte e transmite a sensação de prazer. A dopamina que sobra na sinapse é reabsorvida pelos receptores da membrana do neurônio que emitiu o sinal e a sensação de prazer desaparece.O que acontece quando a pessoa fuma, injeta ou cheira cocaína? A droga entope os receptores que reabsorvem a dopamina, deixando-a por mais tempo na sinapse e perpetuando a sensação de prazer.
A AÇÃO DA COCAÍNA NO CÉREBRO
A cocaína age sobre três pontos: o tronco cerebral, o núcleo-acubens e sobre a região do córtex cerebral pré-frontal, a mais importante de todas.A sensação de prazer tem conexão com o pensamento. Não é só uma sensação visceral, de prazer físico. É também um prazer cerebral. Por isso, o usuário de cocaína pensa que tem controle sobre a busca do prazer – “Não uso cocaína porque sou dependente; uso porque quero essa fonte de prazer”. Ele deturpa seu pensamento em função de uma necessidade mais primitiva, ou seja, a busca do prazer rápido e imediato que a cocaína proporciona. Envolvido por esse processo incessante, desenvolve uma doença chamada dependência química. Muitos de seus comportamentos vão ser explicados pelo mecanismo biológico que perpetua o uso da droga, embora haja fatores sociais e de facilidade de oferta que também interferem.
Fotografias cerebrais revelam que a diminuição do oxigênio, especialmente nas regiões frontais provocada pelo uso crônico da cocaína, produz alterações que não se recuperam mesmo depois de vários anos de abstinência
A TOLERÂNCIA
A pessoa vai ficando tolerante aos efeitos da cocaína, fenômeno que acontece com todas as drogas. Na primeira vez, como o cérebro não está acostumado, o impacto de prazer é mais imediato e tende a durar mais. Com o passar do tempo, porém, há uma readaptação cerebral ao estímulo constante da droga. O cérebro vai se acostumando e são necessárias doses cada vez maiores para produzir o efeito que passa muito depressa. Na verdade, o cérebro procura sempre manter certo equilíbrio. Ele tenta readaptar-se após a exposição à droga o que, com a repetição do uso, torna o efeito mais rápido e passageiro, contribuindo assim para manutenção da dependência e o aparecimento dos danos causados pela cocaína.Vale salientar que existe o mito de que a cocaína é um estimulante cerebral, considerando seu efeito euforizante que faz a pessoa sentir-se mais poderosa. Na realidade, porém, o metabolismo do cérebro cai muito com seu uso, porque diminui a quantidade de oxigênio em zonas importantes. O cérebro do usuário de cocaína é embotado, muito pobre em termos de estímulos.Atualmente, há recursos que permitem avaliar o funcionamento cerebral e deixam claro o enorme contraste existente entre o cérebro normal, rico e vivo que consome bastante glicose, por exemplo, e o do usuário de cocaína, que se mostra alterado substancial e principalmente nas regiões frontais, ou seja, nas regiões do pensamento, do controle dos estímulos e da impulsividade. Isso explica em parte o comportamento impetuoso dessas pessoas. Conhecer esse fato é importante para as famílias e para os clínicos, pois ajuda a entender por que elas não pensam muito, gastam dinheiro demais e muitas vezes se tornam violentas (parte da violência urbana está relacionada com o uso de cocaína). A pessoa que está “cheirada” e comete se envolve num crime é a que atira primeiro e por qualquer motivo, já que o funcionamento de seu cérebro está substancialmente alterado.Uma forma de testar o cérebro de um usuário de cocaína é a simulação de um jogo, o gambling test. Estudos mostram que o dependente é muito mais impulsivo, busca o prazer imediato, não se articula para retardar as consequências de seu comportamento, deixando claro os danos que a droga causa nesse órgão.
AS PARANÓIAS
Elas têm muito a ver com o sistema dopaminérgico. Doses maiores de dopamina provocam sintomas paranoides à semelhança do que ocorre com as anfetaminas, muito consumidas nos anos de 1950 para manter as pessoas acordadas. Pilotos de avião, por exemplo, que às vezes usavam essa droga para não dormir, tinham surtos psicóticos em pleno voo.De forma marcante, a cocaína produz sensações persecutórias provocadas pelo fluxo muito rápido de dopamina no cérebro. O usuário se tranca no banheiro, imaginado que a polícia vai invadir o local e prendê-lo. É quase um quadro semelhante ao da esquizofrenia paranóide. Dura algumas horas, eventualmente poucos dias e depois tende a desaparecer, mas é sinal indiscutível de que houve uma mudança importante da química cerebral.É uma sensação imediata, às vezes fugaz, mas existe uma alteração no sistema de recompensa cerebral. Se não existisse, não seria possível explicar tal comportamento.A consequência negativa de uma substância não impede que ela continue sendo usada, apesar de o efeito paranóide ocorrer quase imediatamente após o uso. Ou seja, a pessoa valoriza essa etapa de efeito rápido, mesmo que seja fugaz e apesar de saber que irá enfrentar reações complicadas.
FONTE;Ronaldo Laranjeira é médico psiquiatra, coordenador do programa de pesquisas em álcool e outras drogas da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo.

Dano cerebral causado pela cocaína pode ser permanente

A cocaína pode causar dano cerebral e até destruir os neurônios responsáveis pela sensação de euforia, dizem pesquisadores da University of Michigan School of Medicine.“Durante muito tempo se soube que a cocaína produz uma resposta de prazer imediatamente depois de consumida porque aumenta os níveis de dopamina no cérebro”, diz Dr. Karley Little, professor associado de psiquiatria em Michigan. “Mas hoje sabe-se que os neurônios específicos que fazem a interação cerebral com a cocaína ficam lesionados, danificados, podendo até ser destruídos durante o crônico processo de uso da droga”.A dopamina é o neurotransmissor responsável pelas sensações de prazer em nossa vida como: comer, beber ou ter uma relação sexual. Na presença da cocaína, o sistema de recompensa cerebral (área específica do cérebro que contém grande quantidade de dopamina) é estimulado. Para os usuários regulares, o sistema de recompensa se adapta a estimulação dopaminérgica extra, sendo que a ausência da cocaína causa um desequilíbrio e as sensações opostas como tristeza, apatia e falta de ânimo, aparecem de forma expressiva.
“Cerca de um terço dos usuários de cocaína têm depressão importante, apatia, ansiedade e um grande número de indivíduos continuam a se sentir desconfortáveis mesmo depois de interromperem o uso da cocaína”, diz Dr. Litlle.
Os pesquisadores examinaram amostras do tecido cerebral removidas em autópsia de 35 usuários pesados de cocaína e de 35 não usuários escolhidos por pareamento de idade, sexo, raça e causa da morte. Foram utilizadas três medidas padrão para se avaliar as condições da dopamina nas células cerebrais. Eles encontraram níveis significativamente mais baixos de dopamina para os usuários de cocaína em relação aos não usuários. Os níveis mais baixos de dopamina da amostra foram encontrados nos usuários de cocaína que tinham diagnóstico de depressão.Dr. Little que é também chefe do VAHS (Affective Neuropharmacology Laboratory) em Ann Arbour, explica: “sabemos que os indivíduos que apresentam sintomas depressivos em consequência ao abuso da cocaína têm maior propensão a se tornarem dependentes da droga, pois sentem muita dificuldade de interromper o uso. A cocaína causa dependência pelas sensações aversivas da síndrome de abstinência, assim como pela sensação de prazer que ela produz. Nossos resultados oferecem uma sólida base bioquímica para os sintomas de abstinência da cocaína”.
“Este é um estudo pioneiro”, diz Cindy Miner, responsável pela área de ciência do NIDA (National Institute on Drug Abuse). Este trabalho estuda a possibilidade da cocaína causar dano no tecido cerebral, o que é um resultado inesperado em função dos estudos anteriores com animais que pareciam sugerir achados diferentes. Ainda não é possível dizer se o dano celular observado pelos pesquisadores é temporário ou permanente, mas é certamente um dado que auxilia outras pesquisas na área.
Segundo Dr. Litlle, futuros estudos poderiam fazer uma contagem dos neurônios dopaminérgicos. Se fosse encontrado que os neurônios não estão em quantidade diminuída, isto indicaria um processo de auto regulação, no qual existiria uma redução na atividade cerebral em resposta ao uso da cocaína. Caso o número de neurônios dopaminérgicos estivesse diminuído, isso seria resultado de uma evidente perda neuronal. Se esta mudança fosse permanente, isto indicaria um sério problema e, se fosse reversível, seria necessário descobrir quais os mecanismos deste fenômeno.


Referência: 

Little KY, Krolewski DM, Zhang L, Cassin BJ.

Loss of striatal vesicular monoamine transporter protein (VMAT2) in human cocaine users. Am J Psychiatry. 2003 Jan;160(1):47-55.

Pesquisa revela que a cocaína deixa o cérebro sem freio

Em estudo feito com ratos, pesquisadores suíços mostram que, além de excitar os neurônios, a cocaína prejudica a liberação de substâncias que inibem a atividade mental

Pesquisadores da Universidade de Genebra, na Suíça, conseguiram ampliar o conhecimento sobre a forma como a cocaína age sobre o cérebro, um feito que pode levar, no futuro, ao desenvolvimento de medicamentos que ajudem a combater o vício na droga. Na edição mais recente da revista Science, os cientistas mostram como um estudo feito em ratos indicou que, além de a substância estimular circuitos excitatórios do córtex, algo de que já se sabia, ela prejudica a produção de neurotransmissores inibitórios. Em outras palavras, o entorpecente não só acelera os neurônios, como também desliga os freios desse processo.O cérebro humano tem cerca de 100 bilhões de neurônios conectados. Essas células, no entanto, não são coladas umas às outras: elas conversam pela sinapse, um pequeno espaço em que substâncias químicas circulam, sendo liberadas e absorvidas. Uma delas é a dopamina. Quando o corpo recebe um estímulo de prazer — que pode ser uma fatia de bolo de chocolate ou uma droga como a cocaína —, algumas células nervosas liberam a dopamina, que é absorvida por outros neurônios que têm receptores para isso. Assim, a substância circula e garante satisfação à pessoa.
Leia mais;Dopamina-USPUso de Drogas-PDF-USPReceptores de Dopamina
O que os pesquisadores suíços descobriram é que a cocaína desencadeia um processo que resulta na inibição de neurônios que liberam o Gaba, principal neurotransmissor inibidor do sistema nervoso central. Essa inibição ocorre em uma região específica do cérebro, conhecida como área tegmental ventral (VTA, na sigla em inglês).
“A grande novidade do estudo é apontar que a droga age indiretamente no sistema inibitório, e não tínhamos conhecimento disso. A cocaína é um estimulante do sistema nervoso e, portanto, ela estimula os circuitos. O que esses pesquisadores viram é que ela estimula o neurônio dopaminérgico, mas inibe um outro centro, que tem como função inibir essa excitação”, explica Rogério Tuma, neurologista do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo, que não participou do estudo.














Para chegar a esse resultado, os pesquisadores aplicaram injeções de cocaína em ratos genéticamente modificados e observaram o efeito no cérebro dos animais por meio de optogenética, técnica que consiste na expressão de uma proteína sensível à luz, fácilmente manipulada pelos cientistas. Christian Lüscher, um dos autores, afirma ao Correio que o estudo inovou ao olhar para os processos inibitórios na VTA. “Não há outras pesquisas olhando especificamente para a transmissão inibitória nessa região”, garante. O especialista acrescenta que a investigação traz muitas pistas sobre como o vício se forma e por que usuários podem sofrer com a síndrome de abstinência, grande desconforto físico que surge quando o uso da droga é interrompido. Isso porque essa inibição do Gaba perdurou por muito tempo. “O efeito foi observado nos animais por dias, senão por semanas.”Esse resultado também é importante, segundo Rogério Tuma. “O estudo mostra que o neurônio, sob efeito da droga, muda seu comportamento de forma duradoura e, talvez, até permanente, o que é ruim. Claro que mais estudos precisam ser feitos, mas, se descobrirmos uma droga que iniba a ação desse neurônio, vamos diminuir o risco da dependência e diminuir os efeitos da substância”, avalia o neurologista.

Mais informações

Dartiu Xavier, coordenador do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (Proad) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), considera o estudo interessante porque ele amplia o conceito da dependência química. “Antes, só se falava em receptores de dopamina, mas, agora, sabemos que há mais coisas no cérebro acontecendo para que a pessoa fique dependente”, diz. “Hoje, temos um grande questionamento: muitas pessoas consomem drogas, como cocaína e crack, mas nem todas são dependentes. Por que uma certa minoria fica dependente dessas substâncias? Essa é nossa grande interrogação”, prossegue.














Para ele, é preciso estudar tanto o cérebro dos dependentes quanto daqueles que não sofrem com o vício. Nesse sentido, as pesquisas sobre plasticidade neuronal ganham cada vez mais espaço. “Isso porque determinadas áreas se adaptam à entrada da substância e modificam a arquitetura dessas regiões e da disposição das células. Saber como isso ocorre, portanto, abre novas perspectivas para o tratamento.”
Na Unifesp, há estudos que investigam o potencial de substâncias usadas no chá ayahuasca, consumido nos rituais da doutrina do Santo Daime, para frear o desejo pela cocaína e pelo crack. Segundo Xavier, há pessoas que, ao iniciarem os rituais, abandonam o uso das drogas. “No início, achávamos que era a filiação religiosa, algo relacionado com a fé. Mas descobrimos que não é só isso, pois esses alucinógenos têm influência na plasticidade do cérebro. Hoje, sabemos que eles têm potencial para futuros tratamentos”, explica o especialista, para quem a dependência é uma mistura de fatores psicológicos e biológicos.
“Se uma pessoa é submetida ao estresse e nasce no meio da cracolândia, vive tensa, com medo de agressão, há grandes descargas de adrenalina. O mesmo ocorre em pessoas que têm pais opressores, por exemplo, ou possuem outros problemas familiares. Isso os leva a uma descarga de alguns hormônios que também modificam funções cerebrais. As terapias hoje são uma junção de psicoterapia com remédios”, conta.
OS EFEITOS DA DOPAMINA COM O USO DE COCAÍNA-EM PORTUGUÊS

USP TESTA ESTÍMULO CEREBRAL EM DEPENDENTES DE COCAÍNA
Psiquiatras aplicam ondas magnéticas em regiões específicas do cérebro para tratar dependentes de cocaína.A técnica, já usada contra depressão, difere da eletroconvulsoterapia, em que o cérebro recebe uma descarga elétrica.Pesquisadores do Instituto de Psiquiatria da USP estão testando o uso da estimulação magnética do cérebro para conter a fissura de pessoas dependentes de cocaína em pó e “reorganizar” o funcionamento cerebral.A técnica, chamada estimulação magnética transcraniana, é usada aqui desde 2006 no tratamento de depressão. Segundo os médicos, não é invasiva e quase sem efeitos colaterais.Essa é a primeira vez que pesquisadores brasileiros resolvem investigar se os benefícios do método podem ser estendidos para dependentes crônicos da droga.
O psiquiatra Phillip Leite Ribeiro, responsável pelo teste na USP, explica que a ação da cocaína desorganiza os circuitos cerebrais, alterando o funcionamento das redes de neurônios. “A consequência é uma pessoa dependente da cocaína, com dificuldade de raciocínio e de decisão”, diz Ribeiro.
Como Funciona
A estimulação magnética transcraniana é aplicada em consultório, sem anestesia.O paciente usa uma touca de natação e o médico aproxima o aparelho na região do cérebro a ser tratada. As ondas penetram cerca de 2 cm. No caso da cocaína, o local exato da aplicação não foi divulgado por se tratar de algo ainda em estudo. As sessões são feitas durante 20 dias e duram 15 minutos. Custam, em média, R$ 400 cada uma. Após um mês, o paciente faz tratamento para prevenir recaídas. Por enquanto, os resultados preliminares mostram que há, de fato, uma diminuição na fissura. E, ao contrário do que parece, a estimulação magnética não provoca choques. É bem diferente da eletroconvulsoterapia – método em que o cérebro recebe uma descarga elétrica generalizada, entrando em convulsão.”A estimulação transcraniana gera um campo magnético com uma pequena corrente elétrica. A ação é local”, afirma Ribeiro.
Pouco Usada
Segundo Paulo Silva Belmonte de Abreu, chefe do serviço de psiquiatria do HC de Porto Alegre e presidente da Associação Brasileira de Estimulação Magnética Transcraniana, embora seja reconhecida, a técnica não é muito usada no país.”Ela tem efeitos positivos na depressão, em psicoses que provocam alterações auditivas [como esquizofrenia], no tratamento da dor fantasma. Mesmo assim, poucos centros a usam, ainda tem muito preconceito”, avalia. Para Abreu, é importante que o método seja testado para tratar outros problemas. “É uma ferramenta não invasiva que não lesa o cérebro. Quando não atinge os efeitos desejados, ela não faz mal.”Segundo Abreu, a única contraindicação é para pessoas com histórico de convulsão – a aplicação pode desencadear uma crise. Os principais efeitos colaterais são leve dor local e desconforto durante a aplicação.
O psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, diretor do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Unifesp, é mais cauteloso.
“É uma técnica que está sendo estudada para vários tipos de transtornos, mas não é totalmente eficaz. O que se sabe é que ela modifica circuitos neuronais, mas ainda não é possível dizer que resolve o problema”, diz.
OBID Fonte: Folha de São Paulo
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Unidade da USP-Faculdade de Medicina
Área do Conhecimento-Neurologia
Características do sono e qualidade de vida em dependentes de cocaína- Dissertação apresentada ao Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências Área de Concentração: Neurologia Orientador: Prof. Dr. Livre Docente Rubens Nelson Amaral de Assis Reimão
AdrianaPerarodeLima.pdf
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CONCLUSÃO E NOTA DO BLOG
O cérebro possui bilhões de células (neurônios) se interligando das mais variadas formas, promovendo a passagem de “informação” entre as diferentes regiões do sistema. Quem possibilita que esses sinais sejam enviados de um neurônio para outro são moléculas químicas, chamadas neurotransmissores.
As drogas psicotrópicas, por serem também moléculas químicas, chegando ao cérebro, atuam interferindo na engrenagem da química cerebral, aumentando, diminuindo ou alterando a forma de atuação dos neurotransmissores. Popularmente, fala-se que o uso é uma “Euforia, sente-se “apagado”, mudança do humor, intensificação dos sentidos, percepção de sons e visões são a tradução comportamental da desorganização da química cerebral.” Mas,  essas sensações são consideradas boas por alguns, desagradáveis ou indiferentes por outros. O que dita esta diferença? Forma de ser, fatores culturais, características de personalidade, circunstâncias específicas? A magia química não responde a estas questões. Estão fora do seu limite. Entra-se aí no universo não menos mágico da diversidade humana.Seria válida a conclusão de que a motivação para o uso de drogas seria a busca do prazer, mesmo que espúrio, mas um prazer. Recentemente essa idéia tem sido contestada através de estudos com um tipo de tomografia computadorizada com marcadores nucleares chamada PET, e que fornece dados sobre a atividade funcional de áreas, no nosso caso, cerebrais.Quando a cocaína,que é a droga em questão hoje aqui, é usada de forma intermitente e em doses altas, como por exemplo, em noitadas de “agito” ela pode sensibilizar os neurônios, ocasionando irritabilidade com agressividade, inquietação e paranóia. A engrenagem da dependência, no uso continuado de cocaína, estabelece-se com a desativação de um número de receptores pós-sináticos da dopamina, estendendo-se a outros receptores, como os da noradrenalina e serotonina.Essa adaptação traz sérias conseqüências para o funcionamento cerebral, como o surgimento de estados paranóicos que podem atingir níveis psicóticos bem como depressões graves que podem levar ao suicídio.A ação da cocaína sobre vários neurotransmissores pode gerar conseqüências simultâneas em vários sistemas orgânicos, entre as quais destacamos a mais comum, a falta de apetite, e a mais grave, o derrame cerebral, ao lado de respiração ofegante, aumento da pressão e até aumento da temperatura.Estamos nesta série estudando o cérebro e realísticamente, abordando os males de nossa sociedade , cujo tema “uso de drogas” é uma constante e  influencia a atividade cerebral de maneira altamente destrutiva.Nos próximos posts, abordaremos mais substâncias que mudam a conformação do cérebro e que podem ser irreversíveis á longo prazo.
EQUIPE DA LUZ É INVENCÍVEL
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Bibliografia para consulta
O super cérebro
Deepak Chopra
 O Cérebro que se transforma
 Norman Doidge
O cérebro criativo
Shelley Carson Ph.D
Treine a mente e mude o cérebro
 Sharon Begley
 Como funciona o cérebro
Série mais ciência
 Vitalize seu cérebro
John Arden
 A cura do cérebro
Adriana Fóz
Nota:Biblioteca Virtual
Divulgação: A Luz é Invencível

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